Sexta-feira 13. Começo o dia aterrorizado. Depois
de dormir mal e pouco, sou acordado às 8:00h. com gritos de terror que
assombram minha rua com ecos ostensivos passeando pela vizinhança. Era tão aterrorizante
que desafiava o demônio, chamando-o para o embate e prenunciava sua fuga. A
seguir, ameaçava a todos aos berros dizendo que vão invadir favelas. Neste
momento eu gelei, pois numa cidade como Petrópolis, todos os morros, com exceção
o dos milionários, tem casas simples, em área de risco, que habitam pessoas que
lutam diariamente contra toda sorte de azares e, portanto, podem ser tomadas
como favelas. Temi por minha segurança e de minha comunidade.
A quem recorrer? Pensei em ligar para a Polícia
Militar. Mas, neste exato momento, quando vi este esquadrão do terror dobrar a
curva mais abaixo de onde moro, qual não foi minha surpresa ao constatar que
era a própria PM quem nos aterrorizava? Meu pânico aumentou! Preferia que fosse
um bando de criminosos... Mas ao ouvir a nossa própria segurança pública gritar
que “vai invadir favela”, minha sensação de vulnerabilidade, desrespeito e de
ameaça somaram-se ao terror daquela visão dantesca à qual se sucedeu por uma
reflexão que, ao entender, só piorou as coisas. Ao imaginar que a Polícia
Militar é formada por “pessoas de bem”, pais de família que cuidam de seus
filhos, mas que, institucionalmente, são obrigados a correr nas ruas gritando
imbecilidades, numa forma de propaganda da corporação, ou de preparação
emocional e psicológica até para enfrentar o “demônio que mora nas favelas”, o
quadro tornou-se muito mais aterrorizante. Se pensarmos que esta doutrina é
passada aos seus filhos em casa, nossa angústia aumenta ainda mais ao imaginar
que a descendência de nossos heróis já é preparada com um discurso genocida no
seio familiar, que muitas vezes estão instalados em locais parecidos com as
favelas que eles mesmos ameaçam invadir. E por falar em genocídio, tal loucura
contamina a todos aqueles que se sentem seguros com a presença ostensiva da
Polícia Militar, sem pensar nas ameaças esquizofrênicas berradas coletivamente
por uma das instituições que mais matam no Brasil. Só no Estado Rio de Janeiro
morrem mais de 1000 jovens por ano em incursões nas favelas. Esses jovens são
negros, menores de idade e pobres. O que define muito bem o perfil de quem deve
ser exterminado. Seriam estes os demônios?
Se nos sentimos seguros com o espetáculo dado pela
nossa PM, algo vai muito mal. Estaremos aceitando a propaganda das ditas “invasões
pacificadoras”, ao invés de sermos ocupados por uma educação humanitária que
nunca conheceu os bancos escolares. Se normalizamos a institucionalização do preconceito
e do ódio não podemos clamar por justiça social em detrimento da constante opressão
dos “mais pobres”. Se a favela é um lugar lembrado somente para invadir, estamos
criminalizando o desgraçado e não entendemos que a pobreza é o crime praticado
pelos mais ricos, que sempre tem sua propriedade protegida e aumentada pelo
Estado. Se este Estado protege tão enfaticamente a propriedade, então ele oprime
a maioria da população que vive com pouco. Este ato é sim uma ação sistêmica
genocida. Quem aceita, ou simplesmente, não se incomoda com este quadro, é
omisso e tem a postura da população alemã à época da ascensão Nazista, onde a
propaganda anti-semita preparava as tintas do que seria um dos maiores
holocaustos da história, fruto da civilização moderna que, por sua vez, permitiu
também milhões e milhões de mortes causadas pela ascensão comunista, pelas
ditaduras latino-americanas, africanas e, ultimamente pelas ações militares norte-americanas
contra o terror, que são muito mais aterrorizantes do que os demônios que
pretendem combater.
O fato de uma demonstração abusiva de poder ter
sido realizada numa sexta-feira 13 não nos parece uma coincidência, mas uma
associação de afetos e superstições que ajudam a promover o caráter terrorista
de nossa segurança pública perante a ingenuidade e desinformação popular. Quem
elaborou os requintes desta demonstração revela um caráter psicopata que
pretende instaurar um clima de neurose na sociedade e exacerbar seu poder. Portanto,
não aceito que tais manifestações institucionais de desequilíbrio mental,
afetivo, social e de força truculenta sejam apregoadas aos berros contra a
sociedade da periferia. A ameaça de invasão de nossas casas, já ocorreu
sonoramente pelos gritos ensandecidos que, momentaneamente, calaram nossas
crianças nas ruas e atiçaram nossos cachorros.
Sou Cristão ativo e praticante, mas diante do
terror da sexta-feira, 13 de setembro de 2013, rogo aos anjos do mal que apareçam
para que a Polícia Militar encontre ocupação de verdade e, ao ser obrigada a
responder por suas blasfêmias sociais se esqueça de demonizar aquele que é sua
vítima. E que o Diabo vença! Pois num terceiro momento, rogarei confiante a D’us
para que a paz reine definitivamente sobre a Terra.
Carlos Völker Fecher
Maestro
Ativista pelos Direitos Humanos
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